Deixa eu te mostrar um exemplo prático disso
Sua primeira queixa ao entrar em contato comigo pela primeira vez foi que não conseguia fazer sobrar dinheiro, apesar de já estar ganhando razoavelmente bem. Ele sabia que isso era por falta de organização.
Nas palavras dele: "Quero ter um estilo de vida em que não precise viver no limite. Se precisar ir ao médico, viajar, comprar algo diferente, não quero ter a preocupação constante de 'e se acontecer algo?' ou 'e se eu não conseguir fechar trabalhos?'"
Eu sabia que havia mais coisas que contribuíam para sua desorganização financeira e comportamento, então disse que precisaríamos avançar em outras questões para entender seu padrão comportamental.
Ao iniciar o processo, meu primeiro passo é sempre entender o perfil comportamental da pessoa. Para isso, preciso entender como ela pensa, interpreta o mundo e age.
Nesse processo, entendemos que havia uma crença de incapacidade que direcionava tudo isso. Renato se achava incapaz, era o terceiro filho e logo depois veio o quarto, então passou a vida buscando chamar atenção e aprovação.
Com isso, criou a concepção de que é incapaz e que seus irmãos são mais inteligentes, mais dedicados e mais capazes. Para alimentar esse ciclo, gasta muito mais do que tem condições, assim, consegue chamar a atenção do pai, que lhe concede dinheiro, o que alimenta ainda mais a sensação de incapacidade.
É um ciclo vicioso que tem levado à desorganização financeira e dívida.
O que tem por traz desse comportamento?
Do ponto de vista da teoria cognitiva comportamento (TCC) o comportamento do Renato é explicado por um processo cognitivo.
Ao longo da vida Renato consolido suas crenças, sua visão de mundo, suas próprias verdades absolutas. A partir delas, ele reage ao mundo, funciona assim:
Situação: ele recebeu uma notificação do banco sobre atraso de pagamento.
Pensamento automático: "Eu não consigo cuidar do meu dinheiro, nunca vou aprender, não vou dar conta e não adianta tentar arrumar minhas finanças, elas não têm mais jeito."
Emoção: tristeza, apatia, desânimo e baixa autoestima.
Reação comportamental: não cuida do dinheiro, gasta ainda mais e não tem uma atitude de enfrentamento.
Em resumo, de forma visual, funciona assim:
Portanto, esse padrão é aprendido. Você aprendeu a reagir comprando mais diante de todas as dívidas que tem e diante da busca por aprovação do pai.
Qual é o caminho a seguir para minimizar a manutenção desse padrão?
A primeira coisa que desenvolvemos, eu e o Renato, foi ligar o alerta para identificar as reações comportamentais e, depois disso, identificar os pensamentos automáticos que levaram a esse comportamento.
Por exemplo, se ele demonstrasse maior apatia em um dia e, consequentemente, comprasse, buscávamos entender o que havia passado em seus pensamentos antes da emoção e do comportamento surgirem.
No caso que contei, o problema inicial foi a carta do banco, que desencadeou pensamentos disfuncionais e, consequentemente, mais compras.
Ao identificar o pensamento automático, facilitamos a racionalização do processo. É como se disséssemos: "opa, me comportei assim porque achei que era incompetente, mas o que tem a ver a carta do banco com isso? Eu realmente tenho sido incompetente, ou apenas tenho reproduzido um comportamento disfuncional? O que comprova que sou incompetente?"
A partir dessas perguntas, conseguimos minimizar as respostas automáticas e tornar o comportamento mais racional e consciente. O objetivo é validar se realmente o pensamento automático é válido ou não.
Isso funciona para dívidas, para gestão financeira ou para qualquer disfunção comportamental.
A pergunta que guia é:
O que estava passando nos meus pensamentos?
Se quiseres aprimorar ainda mais seus conhecimentos sobre esse assunto, te convido a assistir o 20º episódio do podcast mais que fianças, lá explico todo esse processo.
Recomendação
Terapia Cognitiva Comportamental
E para complementar, se seu interesse for estudar mesmo, todos esses conceitos, sugiro fortemente o livro "Terapia Cognitiva Comportamental", escrito por Judith S. Beck, um dos maiores nomes da área.