6/5/2023

#9 - Substitua compras por reguladores emocionais saudáveis.

Você já comprou algo e se sentiu feliz, alegre? A resposta provavelmente seja sim, afinal de contas, comprar é uma conquista, muitas vezes a realização de um sonho. Entretanto, essa sensação positiva, pode por vezes induzir a repetição desse comportamento de forma disfuncional e sempre que você se sentir mal, a compra aparecer como uma solução para o seu problema. Consequência, muitas vezes dúvida, mas como não chegar a esse ponto? É isso que vamos conversar no refúgio de hoje.
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Você já olhou para uma pessoa que tem algum vício, como cigarro, ou até mesmo droga, e já se perguntou o motivo pelo qual aquela pessoa não sai daquela vida?

Um exemplo menos extremo: você já se perguntou por que as pessoas não conseguem fazer dieta?

Há muitos comportamentos que, olhando de fora, temos dificuldade de entender, mas quando olhamos para dentro de nós, encontramos coisas que os outros, que têm facilidade, devem pensar igual, como "Fulano não dá conta de fazer exercício físico regularmente", por exemplo.

A verdade é que cada um de nós tem o seu próprio desafio interno, o seu próprio calcanhar de Aquiles.

Do ponto de vista financeiro, uma dificuldade recorrente, que pode ser a sua, é controlar os gastos, não extrapolar nas despesas, não comprar aquilo que não é necessário e ter uma gestão eficiente. E isso parece simples, né? Mas como os exemplos anteriores que dei, pode parecer simples, mas para algumas pessoas é uma luta diária, e esse é o caso de uma cliente minha que gentilmente me autorizou a compartilhar a história dela aqui dentro do refúgio para que mais pessoas possam olhar para dentro de si e se beneficiar com essa história.

Te apresento a história dela: começou sua vida profissional cedo, ocupando um cargo de assistente. Ao longo do tempo, demonstrou seu empenho e dedicação e logo se tornou gerente da área. Desse primeiro emprego, partiu para um desafio maior e depois outro ainda maior, sempre com aumento salarial.

Hoje, ganha três vezes mais do que há quatro anos, mas mesmo com esse aumento significativo, o fôlego financeiro não veio. Inclusive, faço esse convite: pare e avalie como você vivia quando sua renda era três vezes menor do que é hoje. Talvez você se surpreenda. No caso dela, o motivo para a vida financeira não ter melhorado, mesmo com o aumento da renda, é explicado por essa frase:

"O QUERER é um gigante em crescimento que o casaco TER nunca é capaz de cobrir".

Em outras palavras, ela apresentava uma necessidade constante de comprar coisas, e cada coisa que ia comprar tinha uma lista ainda maior de justificativas para validar aquela compra, o que ao longo dos anos foi limitando a liberdade financeira dela.

E daí você pode pensar: tá, mas é só parar de comprar. Não, como eu disse, as coisas não são tão simples quanto parecem.

O que a ciência nos diz sobre isso?

Que provavelmente a compra, nesse caso, está agindo como uma ferramenta de regulação emocional.

O ciclo funciona assim:

Como pode ver, diante de qualquer situação emocional desregulada, a compra entra como uma primeira alternativa.

É como se o cérebro tivesse sido treinado a comprar diante de qualquer sentimento aversivo.

A repetição disso altera o sistema de recompensa, ou seja, deixa a pessoa nessa circunstância ainda mais motivada a comprar quando algo ruim acontece, mesmo que seja só um sentimento ruim, aqueles dias meio “bads” sabe, comprar sempre parece a melhor solução, pois há memória no cérebro do prazer que foi comprar da última vez.

E mesmo que esse prazer da compra dure pouco, e que venha a culpa e até mesmo situações adversas, como dívida, quem se encontra nessa situação simplesmente não consegue parar, apesar das consequências negativas.

É como um vício comportamental, utilizado para regular as emoções.

Se você se identificou com isso, calma, não há nada de errado com você, assim como não há com a minha cliente, é uma questão de estratégia.

Mas que estratégia implementar para mudar e romper com esse ciclo?

O primeiro passo é esse diagnóstico, entendendo que a compra está atuando como um regulador emocional. Dentro disso, é inclusive interessante buscar entender o motivo pelo qual a compra ocupa esse espaço, o que aconteceu na sua infância, na sua vida, que fez o consumo ir tomando esse espaço.

Ultrapassada essa primeira etapa, a segunda é substituir a compra por outro regulador emocional. E sim, a palavra é substituição. Lembra que eu disse no início, as coisas são mais complicadas do que parecem. Não é simplesmente querer e parar. Se fosse assim, não teria ninguém com vícios por aí.

Para fazer essa alteração, vou contar o exercício que eu e minha cliente implementamos na última semana. Eu a convidei para construirmos um desenho com os pilares da vida dela, coisas que faziam muito bem. Ela listou três coisas:

  • Família: Conversas com a mãe e a irmã
  • Autocuidado: exercício, alimentação, respiração, tempo de qualidade consigo mesma
  • Espiritualidade

Essas três coisas, pedi para que ela desenhasse em um papel e, sempre que se sentisse para baixo, triste ou até mesmo eufórica, porque sim, euforia também é motivo de consumo, ela recorresse a um desses pilares.

Essa semana, recebi uma mensagem dela dizendo que estava em dúvida sobre comprar algo, que conversou com a irmã e conseguiu acalmar essa necessidade de consumo, que em outros tempos, sem essa conversa, provavelmente compraria.

Convido você a fazer esse exercício. Funcionou com ela e tenho certeza de que pode te ajudar também.

Nessa sua lista, não deixe de pensar em pessoas com as quais você pode contar, se abrir e conversar, relação afetiva é um dos maiores e melhores reguladores emocionais, inclusive, esse tópico já está na minha lista de tópicos para o podcast ;)

Se quiser se aprofundar ainda mais no assunto, convido a assistir a este episódio do podcast. Ele foi um dos primeiros que fiz e está riquíssimo.

Se quiser ler algo que toque o seu coração em relação à regulação emocional, convido a ler este livro. É uma ótima forma de exercitar o seu olhar sobre as suas próprias vulnerabilidades e entender que buscar ajuda de alguém próximo, por exemplo, é um ato de coragem.

A coragem de ser imperfeito: Como aceitar a própria vulnerabilidade, vencer a vergonha e ousar ser quem você é

Brené Brown

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